Ao analisar os preços mais recentes do frango vivo, qualquer analista vai concluir que seu desempenho vem sendo excepcional, pois, por exemplo, alcançou na média de agosto passado valor 18% superior ao do mesmo mês de 2019, enquanto no momento sua cotação no interior paulista (R$4,10/kg) se encontra quase 25% acima da registrada um ano atrás nesta mesma época.
Serão, no entanto, falsas conclusões, pois baseadas apenas no desempenho mais recente, ou seja, sem levar em conta o que ficou para trás – neste ano ou, mesmo, no segundo semestre de 2019. E desconsiderando, ainda, a evolução dos custos de produção no decorrer de 2020.
Começando pelos acontecimentos do corrente exercício: já com os custos de produção em sensível alta (processo que começou no segundo semestre de 2019), apenas nos primeiros 76 dias de 2020 (dois meses e meio) o frango vivo alcançou preços superiores aos do mesmo período do ano anterior.
Ou seja: ainda em março, mal iniciado o isolamento social devido à pandemia de Covid 19, suas cotações despencaram, só voltando a reagir (como resultado de uma compulsória redução na produção) no mês de junho. Mesmo assim, o primeiro semestre foi encerrado com um preço médio mais de 2% inferior ao do mesmo semestre de 2019.
Em outras palavras, a reversão ocorrida é recente, está toda concentrada no segundo semestre. E se os índices de incremento se tornaram significativos de julho para cá, não foi só em decorrência da valorização do produto.
O que se quer dizer, neste caso, é que parte dos ganhos ora registrados decorrem da desvalorização enfrentada pelo frango vivo no segundo semestre do ano passado. Veja-se o gráfico abaixo: o pico de preços de 2019 foi registrado entre meados de abril e a primeira quinzena do mês de junho. A partir daí os valores recebidos pelo produtor apenas retrocederam, a ponto de ser registrado, em dezembro, valor médio inferior ao de março.
Pois bem: no momento, a cotação obtida pelo frango vivo se encontra 24% acima da registrada há um ano. Mas se há um ano o preço do produto não tivesse sofrido desvalorização, mantendo-se – sem novas altas – no mesmo nível registrado entre abril e junho, o ganho atual cairia para menos de 14%.
Seria, até, um resultado palatável não fosse o custo de produção ter se elevado muito acima desse índice. Pois, de acordo com levantamento da Embrapa Suínos e Aves, ao alcançar o valor de R$3,65/kg em agosto passado, o custo de produção do frango aumentou 28,98% em um ano.
Notar, ainda assim, que mesmo com a valorização mais recente, no ano o frango vivo alcança valor médio (R$3,39/kg) apenas 3,5% superior ao de idêntico período de 2019. E isso está muitíssimo aquém do custo de produção que, entre janeiro e agosto, ficou quase 20% mais caro que o registrado nos mesmos oito meses de 2019.