Um deles sai chamuscado com o agronegócio em seu país na decisão sobre a taxação do combustível
Os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro estão em uma discussão espinhosa. O resultado pode complicar a vida de um deles no setor do agronegócio de seu país.
Em 31 deste mês, o Brasil define sobre a isenção ou não de imposto sobre o etanol importado que chega ao país. Atualmente, até 750 milhões de litros estão isentos de taxa. A partir deste volume, o produto paga 20%.
Bolsonaro já havia favorecido os norte-americanos em 2019, elevando o patamar de isenção, que era de 600 milhões de litros até então.
Trump, porém, diz que deveria haver reciprocidade do Brasil, já que os Estados Unidos não impõem custos tarifários ao etanol brasileiro.
O setor sucroenergético brasileiro, no entanto, argumenta que os 750 milhões de litros de etanol isentos de tarifa que os americanos colocam no mercado brasileiro representam 1,1 milhão de toneladas de açúcar, produto que tem taxa proibitiva de importação nos Estados Unidos.
Os americanos liberam uma cota de 150 mil toneladas de açúcar, dependendo do ano, para os exportadores brasileiros. Fora desse limite, a taxa de importação nos Estados Unidos vai até 140%.
O presidente Trump se meteu, na verdade, em uma armadilha em seu país. Ele tem um grande apreço pelas refinarias petrolíferas e, portanto, já isentou várias dezenas delas da obrigatoriedade da mistura de etanol à gasolina.
Essa medida do presidente irrita os produtores de milho, uma vez que um terço da produção do cereal vai para as usinas de etanol nos Estados Unidos.
Boa parte dos produtores americanos está furiosa, ainda, com a política externa de Trump, principalmente com a guerra comercial com a China.
Maior importador de alimentos no mundo, o país asiático reduziu as compras nos Estados Unidos, derrubando as margens de ganho dos agricultores.
O problema maior para o Trump é que o grande apoio dele na eleição presidencial veio do campo. Quer, portanto, um trunfo nas mãos: a liberação das exportações de etanol para o Brasil.
Em tempos de eleição, seria o ideal para o presidente americano. Ficaria de bem com as petrolíferas, isentando parte delas da mistura do etanol, e com os produtores agrícolas e de álcool, que teriam o mercado brasileiro sem taxas.
Bolsonaro vai ter de medir bem a decisão que vai tomar. Assim como nos Estados Unidos, o campo foi uma das principais bases de apoio do presidente. Boa parte do centrão, do qual o presidente se aproxima, tem como base eleitoral produtores agropecuários.
Além disso, um ato de bondade do presidente brasileiro para dar uma ajudazinha a Trump nas eleições de novembro pode não ser compactuado com o Congresso, que vai decidir sobre a medida tomada pelo presidente.
Por Mauro Zafalon
Fonte: Folha de S. Paulo