SÃO PAULO (Reuters) – Com mais de 90% da segunda safra de milho colhida em Mato Grosso, os agricultores do Estado contam com um recuo de 16,3% no frete rodoviário para escoamento do cereal pelo Arco Norte, no primeiro ano em que a pavimentação da BR-163 se converteu em benefício logístico.
O recuo do frete, um custo relevante para o setor, é mais um fator a impulsionar a rentabilidade do produtor brasileiro, que foi beneficiado este ano por uma demanda firme da China e pelo efeito do câmbio sobre os preços na temporada de 2019/20. Depois de exportar a maior parte da soja, o país agora entra na campanha de embarques de milho.
Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) fornecidos à Reuters indicam que o custo de transporte de grãos entre Sorriso (MT) e Miritituba (PA) caiu de 239 reais por tonelada em julho de 2019 para 200 reais no mês passado.
“A pavimentação contribuiu para o aumento na capacidade logística de Mato Grosso. Como estamos com mais de 90% da safrinha de milho colhida, o trabalho agora é levar para o porto”, disse o superintendente do Imea, Daniel Latorraca.
Nesta semana, a produção de milho 2019/20 em Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, foi estimada pelo Imea em 33,48 milhões de toneladas, alta de 203 mil toneladas ante a projeção divulgada em julho e avanço de 3,16% ante temporada de 2018/19.
O diretor executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira, ligado à associação de produtores de soja e milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), afirmou que até o ano passado o frete era maior porque o caminhoneiro não sabia quanto tempo levaria no deslocamento até os portos do Norte/Nordeste.
“Os motoristas estão fazendo de cinco a seis viagens por mês. Antes da pavimentação na BR-163, eram de duas a três viagens no mesmo período”, explicou Ferreira.
“Por isso, o valor do frete não caiu, ele veio para uma realidade de condições que sempre deveríamos ter tido”, acrescentou o diretor.
O custo atual do frete entre Sorriso e Miritituba está 20 reais por tonelada abaixo da média histórica para julho, de 220 reais, conforme dados do Imea. Em julho de 2018, a despesa com a logística neste trecho chegou a alcançar um pico de 268 reais por tonelada.
Essa diferença foi obtida com a pavimentação de um trecho da BR que leva até Miritituba, de onde o produto é colocado em barcaças que seguem pelo rio Tapajós até os portos exportadores do Amazonas –o transporte fluvial também ajuda na redução de custos da cadeia produtiva.
Esse movimento para o frete está em linha com a projeção dada pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) em fevereiro, quando a obra foi inaugurada.
Na época, a entidade ainda disse que o transporte de grãos (soja e milho) pelo corredor logístico ao norte do país tende a duplicar no prazo de cinco anos, passando de 10 milhões de toneladas para 20 milhões de toneladas até 2025.
“Cada redução que tenho no frete é um valor a mais que tenho de remuneração adicionada ao produtor”, pontuou o superintendente do Imea.
SOJA PELO NORTE
Levantamento da Abiove mostra que, no primeiro semestre do ano, as exportações de soja em grão pelos portos do Arco Norte aumentaram 33% em relação ao mesmo período de 2019. Foram 18,73 milhões de toneladas escoadas.
O economista-chefe da associação, Daniel Amaral, disse que o volume cresceu com o aumento da safra, mas a participação do Arco Norte enquanto rota de exportação se manteve em torno de 30%.
“No entanto, se as condições logísticas até a região não tivessem melhorado neste ano, em que a disponibilidade de grãos para embarque aumentou, haveria uma concentração nos portos do Sul e pressão de custo sobre o produtor rural”, disse.
“Ou seja, o Arco Norte representa um importante papel em dois pontos: diversificação de rota de escoamento e redução de custo geral para transportes”, completou.
Fonte: Reuters