Segundo alguns analistas, por conta da forte redução na produção de carne suína em decorrência da peste suína africana, em 2020 – pela primeira vez na história – a carne mais consumida no mundo será a de frango.
Parodiando célebre personagem da Escolinha do Professor Raimundo (Chico Anysio), diríamos: há controvérsias! Pois tudo depende da fonte de informação adotada.
Há tempos, tem-se utilizado amplamente, como principal fonte de informação da produção mundial de carnes, os dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), visto que, independentemente dos números apresentados, têm mostrado fielmente as tendências do setor.
Porém, os dados do USDA também apresentam alguns senões. Por exemplo, não têm amplitude global, correspondem a um sumário de países selecionados. E em relação à carne de frango, especificamente, o órgão exclui de suas estatísticas pés/patas de frango, item de baixo peso mas de amplo consumo nos países asiáticos.
Por falar em países asiáticos, o USDA desconsidera, também, a produção de aves que poderíamos chamar de “caipiras”: leva em conta apenas o produto de aves híbridas. E como, na Ásia, a produção “caipira” ainda é bastante intensa (afinal, é o berço do atual frango), seus dados em relação à produção de carnes avícolas acabam sendo parciais.
Sob esse aspecto, quem cobre de forma mais ampla a produção mundial das quatro principais carnes consumidas no mundo – suína, avícola, bovina e ovina – é a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Cujos números dão conta de que, desde 2016, a carne mais consumida no mundo é a carne avícola.
Naturalmente, sob o guarda-chuva das carnes avícolas há uma grande variedade de espécies – perus, patos, ganso, codornas, avestruzes, só para citar alguns. Mas os dados da FAO referem-se especificamente à carne de galináceos, aqui inclusos os descartes de reprodutoras e poedeiras, aves que, após o abate, acabam se tornando carne de frango.
É verdade que, com a ocorrência da peste suína africana, a produção mundial de carne suína caiu de forma alarmante. Mas a redução de produção era tendência manifestada anteriormente ao problema. E que, tudo indica, não terá reversão, ainda que a produção (sobretudo a chinesa) venha a se recuperar. Ou seja, pode voltar aos padrões anteriores, mas sem alcançar a produção das carnes avícolas.
Ainda a propósito, retomando dados do USDA, constata-se que na década decorrida entre 2005 e 2015, frente a uma evolução de 40% na produção de carne de frango, o incremento da carne suína não chegou a 17%. Quer dizer: a tendência é bem antiga.