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Dependente das chuvas, agricultura de sequeiro tem déficit hídrico de 37%

A agricultura de sequeiro, que ocupa mais de 90% da área agrícola do País, poderia ser mais produtiva, não fosse o déficit hídrico anual de 37%. Essa modalidade de plantio, que depende totalmente das chuvas e da água armazenada no solo, foi analisada pelo IBGE e pela Agência Nacional de Águas (ANA) no levantamento Uso da Água na Agricultura de Sequeiro no Brasil (2013-2017).

O estudo inédito, divulgado hoje (14), apresenta informações estratégicas para o planejamento do uso da água e o aperfeiçoamento de políticas agrícolas e será incorporado às Contas Econômicas Ambientais da Água. Nos cinco anos analisados, as culturas de sequeiro estiveram sujeitas a um déficit hídrico médio de 37%, sendo 30% em períodos mais críticos de desenvolvimento do plantio e 7% no período próximo à colheita. O déficit representa o quanto faltou de água para o pleno desenvolvimento das culturas.

“A produção agrícola brasileira poderia aumentar expressivamente com a redução do déficit hídrico em áreas de sequeiro, o que depende não só de chuvas abundantes e bem distribuídas, mas também de manejo adequado do solo e da água nas propriedades rurais”, explica o coordenador de Estudos Setoriais da ANA, Thiago Fontenelle.

Nesse aspecto, milho e cana-de-açúcar foram as culturas mais afetadas. Enquanto o milho é muitas vezes plantado em regiões e períodos de maior risco climático, a cana-de-açúcar sofreu com o clima mais desfavorável que a média histórica, embora seja mais resistente ao déficit de água.

O estudo do IBGE e da ANA calculou que o consumo de água pela agricultura de sequeiro alcança 8,1 milhões de litros por segundo na média dos anos analisados. Quando considerada a agricultura tanto de sequeiro quanto irrigada, o consumo aumenta para cerca de 10 milhões de litros de água por segundo, dos quais 92,5% provêm das chuvas e do solo e 7,5% como aporte adicional via irrigação captada em mananciais superficiais e subterrâneos. No período entre 2013 e 2017, as variações no uso da água foram sutis, havendo impactos regionais tanto das variações das chuvas quanto da própria expansão ou retração da área plantada de algumas culturas.

“Os dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) foram fundamentais para chegarmos a esses cálculos”, explica Carlos Alfredo Barreto Guedes, gerente de Agricultura do IBGE. O levantamento estima mês a mês os percentuais das áreas plantadas. “A partir de perguntas de controle do LSPA, vislumbramos a possibilidade de criar este estudo”, acrescenta. Outra publicação que serviu de base para o trabalho foi o Atlas Irrigação, o maior mapa da agricultura irrigada brasileira, produzido pela ANA.

Poucos países são capazes de dimensionar o consumo hídrico na agricultura de sequeiro. Na avaliação de Fontenelle, “com esse estudo, o Brasil se coloca na vanguarda mundial na produção desse indicador”. O especialista da ANA destaca três pontos no trabalho hoje apresentado: os insumos que fornecerá às Contas Econômicas e Ambientais da Água; o cálculo do déficit de água para cada município ou região, o que ajuda a mapear as áreas mais sujeitas aos riscos climáticos e aos períodos mais secos do calendário agrícola, orientando a adoção de políticas públicas; e o estreitamento da parceria entre o IBGE e a ANA, visando novos projetos.

O estudo contou com o apoio da Agência Internacional de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) e suas conclusões serão úteis para o Plano Nacional de Recursos Hídricos e o Plano Nacional de Irrigação, bem como para outras diretrizes governamentais e projetos de interesse da sociedade.

Contas Econômicas Ambientais da Água

Em março de 2018, o IBGE, a ANA e o Ministério do Meio Ambiente lançaram as Contas Ambientais da Água: Brasil – 2013-2015. Com o trabalho, foi possível entender com maior clareza a relação entre os recursos hídricos e o valor agregado de cada atividade econômica e como a água desempenha um papel-chave no desenvolvimento econômico do país.

A iniciativa busca produzir e disseminar sistematicamente para a sociedade informações referentes ao balanço entre a disponibilidade quantitativa e qualitativa de água, além da demanda hídrica dos diversos setores da economia brasileira, incluindo as famílias. A nova série das Contas Ambientais da Água: Brasil que cobrirá os anos de 2013 a 2017, será publicada no início de maio, incluindo a regionalização dos dados segundo as grandes regiões do Brasil.

Fonte: IBGE

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