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Grupo Moreno pede recuperação Judicial

O tradicional grupo sucroalcooleiro Moreno, com três usinas no interior paulista, entrou ontem com pedido de recuperação judicial, aumentando a lista de plantas de açúcar e etanol protegidas contra credores – já são quase cem. Após falharem as negociações com bancos com os quais estava inadimplente, a companhia busca proteção para dívidas que totalizam R$ 2 bilhões. Com os credores concursais (sujeitos às regras da recuperação), as dívidas totalizam R$ 1,5 bilhão.

Uma das alternativas para a recuperação judicial pode ser a venda de um de seus ativos industriais, mas ainda não há nada definido, segundo uma fonte. A maior usina do grupo está em Monte Aprazível, mas a de localização mais estratégica está em Luiz Antonio, perto de Ribeirão Preto, onde a unidade opera com toda a capacidade. Nenhuma das usinas possui planta de cogeração de energia a partir de bagaço.

A companhia, que tem faturamento de R$ 1,5 bilhão, já havia renegociado suas dívidas com bancos em 2016, quando conseguiu alongar vencimentos. Nos últimos anos, porém, o grupo não conseguiu recuperar sua capacidade de geração de caixa na proporção necessária para fazer frente às suas obrigações financeiras, dado o prolongamento do ciclo de baixa dos preços internacionais do açúcar.

Desde 30 de agosto, a companhia também não está mais pagando aos seus fornecedores de cana, disse Juliano Maset, presidente da Associação dos Plantadores de Cana e Outras Culturas da Região de Monte Aprazível (Aplacana). “Os últimos três pagamentos não foram feitos”, disse. A associação tinha marcado uma reunião com o Grupo Moreno para ontem para tratar do assunto, mas o encontro foi adiado para hoje.

Além disso, nos últimos três meses, a companhia também passou a ser acionada na Justiça com cobranças e pedidos de rescisão de contratos de parceria agrícola.

Com capacidade instalada para moer até 13 milhões de toneladas de cana por safra em suas três unidades, a companhia tem processado em torno de 10 milhões de toneladas por temporada, 40% das quais provém de fornecedores.

No primeiro semestre, o Grupo Moreno contratou a consultoria financeira Czarnikow para encontrar compradores para algum de seus ativos e levantar recursos para quitar parte de suas dívidas.

A companhia chegou a receber três propostas, entre elas da chinesa Cofco, que possui uma usina em Monte Aprazível, mesmo município de uma das unidades do Grupo Moreno. As propostas recebidas envolviam a aquisição dos ativos industriais, mas as opções não foram consideradas atrativas pela direção do grupo.

No processo de recuperação judicial, a companhia é representada pelo escritório Felsberg Advogados e conta com assessoria financeira da Pantalica Partners.

No mercado, há dúvidas sobre a capacidade de venda de mais usinas em um ambiente já saturado de ofertas de unidades de açúcar e etanol. A última operação de compra de usina no país ocorreu em agosto, dentro do processo de falência da Floralco, que teve uma planta leiloada por R$ 54 milhões, o equivalente a R$ 21,60 por tonelada de cana de capacidade instalada da planta.

Com a concretização do pedido do Grupo Moreno, a quantidade de plantas sucroalcooleiras em recuperação judicial no Brasil subirá para 93, ante 90 em julho, de acordo com o último dado da consultoria RPA, de Ribeirão Preto.

Em evento em São Paulo nesta semana, Cláudio Miori, analista da Fitch Ratings, avaliou que aquisições e fusões não são mais uma realidade para empresas que estão em recuperação. Ele demonstrou ceticismo com as perspectivas que podem trazer uma recuperação judicial, que levam ao menos oito anos para serem concluídas.

No mesmo evento, o advogado Gilberto Gornati, sócio do escritório Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados, que representa diversas usinas em recuperação, defendeu que a possibilidade de venda de usinas precisa levar em consideração se não há outras opções e se podem haver compradores interessados.

No universo de empresas do setor em recuperação, o Grupo Moreno vai entrar no restrito conjunto dos 11% das empresas com mais de 10 milhões de toneladas de capacidade instalada, de acordo com dados da Fitch.

A deterioração da situação financeira da companhia reforça ainda o cenário de aumento das disparidades no setor, em que apenas uma pequena parcela das empresas vislumbra retomar o crescimento, com a consolidação do mercado de etanol e uma eventual recuperação, ainda que modesta, do açúcar. Para Miori, a polarização do setor deve se acentuar em 2020 (Assessoria de Comunicação, 19/9/19).

 

Fonte: www.brasilagro.com.br

 

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