Por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting
O mercado futuro de açúcar em NY fechou a sexta-feira com o contrato de outubro/2019 cotado a 12.30 centavos de dólar por libra-peso, o preço mais baixo registrado desde o final de maio. Alguns analistas acreditam que a fraqueza do mercado físico abre espaço para que o açúcar futuro (leia-se fundos) tente buscar novamente os 12 centavos de dólar por libra-peso. Haja resignação.
No acumulado do mês, café e açúcar lideram as quedas entre as soft commodities, o primeiro com 2.65% e o segundo com 2.54%. O petróleo, no entanto, subiu 3%. O real teve boa valorização em relação à moeda americana, reflexo da aprovação da reforma da previdência em primeiro turno pela Câmara. O hidratado melhorou ligeiramente em relação à semana anterior, tendo sido negociado entre R$ 2,0200 e R$ 2,0400 por litro, com impostos, posto Usina. Com o fechamento do açúcar em NY a 12.30 centavos de dólar por libra-peso, o hidratado está negociando a 170 pontos de prêmio em relação ao açúcar.
O spread outubro/19 março/20 negocia a 100 pontos, que equivalem a um carrego de 20.63% ao ano. Não faz sentindo tamanho desconto para o outubro, a menos, claro, que haja muito açúcar no “duto”, o que realmente é o caso. Comprar o spread nos atuais níveis, receber o açúcar e reentregar no março parece ser tarefa fácil. Difícil mesmo é um desconto desse se manter indefinidamente.
Os fundos não-indexados estão vendidos à descoberto cerca de 84,500 lotes (4.3 milhões de toneladas de açúcar). Na semana passada, questionamos o porquê de os fundos ainda insistirem em manter suas posições vendidas a descoberto. Um veterano gestor de fundos baseado na cidade de Nova York e leitor atento dos nossos comentários semanais nos respondeu gentilmente: “um gestor de fundos pode estar altista em 15 commodities, mas ele não pode ficar comprado em todas elas. Dessa forma, ele ficaria comprado naquelas em que ele está mais otimista e vendido naqueles em que está menos otimista”. Está explicado!
O último relatório da UNICA mostra que a moagem acumulada até a segunda quinzena de junho é 3% menos do que o mesmo período do ano passado. A produção de açúcar já é quase 10% menor e mesmo o etanol também 4.3% abaixo do volume do ano passado.
A geada que atingiu as regiões de café e açúcar na semana passada não foi suficiente para assustar ao mercado. No entanto, apuramos que ela pegou forte no MS, um pouco em MG e GO, mas vamos levar uns 15 dias para saber seu real efeito. Um executivo ligado a uma grande usina informa que neste mês de julho a ATR apurada está nada mais do que 11-12 quilos abaixo daquela obtida no ano passado. A grande preocupação é que podemos fechar a safra atual com apenas 130 quilos de ATR por tonelada de cana. Além disso, segundo o mesmo profissional, a safra está atrasada esse ano em relação ao ano anterior.
Para se ter uma ideia da magnitude desse problema, caso o número temido pelo executivo se concretize, no modelo da Archer Consulting, isso representaria uma redução de quase 700 mil toneladas de açúcar (nossa produção estimada reduziria de 24.2 para 23.5 milhões de toneladas de açúcar) e 850 milhões de litros de etanol (reduzindo nossa estimativa de 30.3 para 29.5 bilhões de litros). Existe, segundo a mesma preocupante análise, risco de desabastecimento. A redução média de ATR que se ouve por aí é de 2.6%.
Dizem que o sapo, quando colocado num recipiente com água em temperatura similar àquela da lagoa onde habita, fica parado enquanto vamos esquentando a água, não reagindo ao aumento gradual da temperatura até que morre fervido. Se, no entanto, jogássemos o batráquio num caldeirão fervente, ele reagiria de imediato e pularia fora salvando sua pele, ainda que estivesse bem chamuscado. Os shorts desse mercado, em nossa opinião, agem como o sapo fervido. Não percebem que a água está esquentando. Estamos vendo lentamente o caldeirão do mercado borbulhando com os fundamentos apontando para redução significativa no rendimento da cana. Os sapos apenas coaxam.
Acreditamos que a dose de realidade virá no último trimestre do ano afetando o vencimento março/2020. No entanto, não dá para descartar que o vencimento outubro ainda experimente forte reação nos preços tão logo todos esses problemas relacionados à cana e rendimentos sejam expressos em números.
Faltam ainda 45 dias para a 32ª edição do Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas, que vai ocorrer nos dias 27 (terça), 28 (quarta) e 29 (quinta) de agosto de 2019, em São Paulo – SP no Hotel Wall Street, na região da Paulista. 50% das vagas já estão preenchidas. Mais de 1.000 profissionais do mercado de commodities já fizeram aquele que consideram o melhor curso de derivativos agrícolas do Brasil. Não deixe para a última hora. Depois dessa edição, a outra só em 2020.
Bom final de semana a todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
Fonte: Archer Consulting