Análise semanal do mercado de açúcar, elaborado por Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting
O mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou o pregão desta sexta-feira cotado a 12.51 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento julho de 2019, uma valorização de 41 pontos na semana, representando pouco mais de 9 dólares por tonelada.
Há muito o mercado de açúcar anda de lado, haja vista que desde setembro do ano passado até hoje o preço médio de fechamento do primeiro mês de negociação na bolsa de NY é de 12.43 centavos de dólar por libra-peso, bem próximo do fechamento desta sexta. Com 95% de intervalo de confiança os fechamentos estiveram, no período mencionado, entre 10,94 e 13,93 centavos de dólar por libra-peso. Uma boa dica para quem se quiser especular e vender calls (opções de compra) e puts (opções de venda) fora-do-dinheiro no preço de exercício próximo aos valores mencionados, ou seja, 11 e 14 centavos de dólar por libra-peso.
Sazonalmente, maio e junho são os meses em que os menores preços em reais por tonelada são observados ao longo do ano safra (de abril até março do ano seguinte), fenômeno que tem se repetido com certa regularidade. Fizemos esse estudo tomando por base os últimos oito anos e corrigindo os valores em reais por tonelada pela inflação brasileira representada pelo IGPM. Exceção feita a situações pontuais, maio e junho habitam o vale de preços enquanto o último trimestre do ano calendário apresentam o pico.
Interessante notar também, pelo mesmo estudo, que as variações mensais em relação ao preço médio apurado em determinado ano-safra oscilam mais fortemente no início de safra (abril-maio-junho), são mais parcimoniosas no trimestre seguinte (julho-agosto-setembro), variam mais fortemente para cima no último trimestre (outubro-novembro-dezembro) provavelmente influenciada em grande parte pela percepção da safra Indiana, para finalmente estabilizar no último trimestre do ano safra (janeiro-fevereiro-março).
Esse estudo é uma importante ferramenta para os hedgers otimizarem suas fixações de preço, sejam eles usinas (fixação de venda da produção) ou consumidores finais (fixação de compra da matéria-prima). Evidentemente que o ideal é que esses parâmetros sejam mais um indicador na tomada de decisão do gestor usados em combinação com outros importantes indicadores, tais como a trajetória do consumo, o câmbio, as correlações do petróleo com etanol, entre outros.
Quanto melhor for a qualidade dos dados que usamos para a tomada de decisão, tanto mais próximo estaremos de obter um desempenho acima da média. Ganhar dinheiro em commodities requer empenho e disciplina. Já, perder, é muito mais fácil.
O volume de açúcar brasileiro exportado no acumulado de doze meses de junho de 2018 até maio de 2019 é de 19,768,250 toneladas, o menor número num período de doze meses corridos desde o longínquo mês de dezembro de 2008. Isto é, há mais de 10 anos o Brasil não exportava tão pouco açúcar. Se considerarmos que o consumo mundial cresce aproximadamente 1.56% ao ano, esse número é ainda mais surpreendente.
Para ter uma visão um pouco mais abrangente, prefiro olhar o acumulado de 24 meses para ter uma noção de quanto o mundo deixou de consumir de açúcar do Brasil. Na última década, o Brasil exportou num período abrangendo 24 meses a média de 50,9 milhões de toneladas de açúcar. Hoje, considerando junho de 2017 até maio de 2019, essa soma despenca para 46,7 milhões de toneladas de açúcar. Não é a mais baixa da década, mas pode caminhar para isso. A pergunta é: qual será o efeito nos preços, independentemente dos altos estoques mundiais, quando o mundo se der conta que uma parcela significativa da oferta do produto foi enxugada pelo produtor com o custo de produção mais baixo do planeta? Tem algo muito errado com esse mercado.
Sempre que posso atender à seminários e congressos sobre o mercado sucroalcooleiro, no Brasil e no exterior, questiono o porquê de não se ver a defesa do consumo de açúcar, hoje o grande vilão e responsável por todos os males da humanidade. O açúcar ocupa a posição que outrora pertenceu ao café, à manteiga (em favor daquela coisa chamada margarina), ao ovo, à carne, entre outras coisas, todas devidamente desmentidas depois de alguns anos. Falta lobby para mostrar os benefícios de um alimento natural? Olho com muita desconfiança esse frenesi todo em relação aos “perigos” no consumo de açúcar. Como substituir um produto natural por outro sintético e acreditar que sua saúde melhora com isso. Por outro lado, parece cômodo para a indústria de alimentos não mais depender do açúcar, que é uma commodity e cujo preço oscila em função da oferta e demanda, e substituí-lo por um adoçante sintético em que o controle na formação de preço é mais estrutural. Apenas a opinião de quem já viu esse filme antes. Em casa não entra adoçante artificial.
A 32ª edição do Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas vai ocorrer nos dias 27 (terça), 28 (quarta) e 29 (quinta) de agosto de 2019, em São Paulo – SP no Hotel Wall Street, na região da Paulista. Não deixe para a última hora. Mais de 1.000 profissionais já fizeram o que consideram o melhor curso de derivativos agrícolas do Brasil.
Bom final de semana a todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
Fonte: Archer Consulting