Depois de acumular alta real[1] de 18,9% no primeiro trimestre de 2019, o movimento de valorização do leite ao produtor perdeu força de março para abril. Segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia aplicada), da Esalq/USP, a “Média Brasil” líquida[2] de abril (referente à captação de março) foi de R$ 1,4920/litro, variação de 0,92% (ou de praticamente um centavo) frente ao mês anterior.
As consecutivas elevações no preço ao produtor ao longo do primeiro trimestre estiveram atreladas à limitação da oferta no campo e à maior competição das indústrias para garantir a compra de matéria-prima. No entanto, a dificuldade das empresas em elevar os preços dos lácteos ao consumidor sem prejudicar seus shares limitou o movimento de valorização no campo em abril.
Para garantir liquidez no período, agentes de laticínios mudaram suas estratégias de processamento e trabalharam com a diminuição dos estoques, principalmente no caso do leite UHT. O preço deste derivado apresentou queda acumulada de 2,1% no atacado paulista em março. No caso da muçarela, houve desvalorização de 1,1% no acumulado de março. É importante lembrar que a formação do preço do leite ao produtor é diretamente influenciada pelo desempenho das vendas dos derivados no mês seguinte à captação.
No campo, a produção dentro da porteira continuou limitada em março, devido ao clima desfavorável. O Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) registrou queda de 1,6% na “Média Brasil” de fevereiro para março. As reduções mais expressivas foram observadas no Rio Grande do Sul (6,4%), Santa Catarina (4,1%) e São Paulo (3,5%). Os volumes em Goiás e Minas Gerais caíram ligeiramente (1,7% e 0,4%, respectivamente), enquanto Paraná e Bahia apresentaram altas (de 3,9% e 9%, nesta ordem).
O cenário de oferta restrita no campo foi observado em abril, o que tem forçado laticínios a repassarem a valorização da matéria-prima aos derivados. Esse cenário, por sua vez, pode sustentar as cotações no campo para o próximo mês. No acumulado da primeira quinzena de abril, as cotações diárias do UHT e da muçarela no atacado paulista se elevaram 6,7% e 3,8%, respectivamente. O leite spot negociado em Minas Gerais também seguiu valorizado, fechando a segunda quinzena de abril com alta de 12,3% em relação ao período anterior.
[1] Dados deflacionados pelo IPCA de março de 2019.
[2] A “Média Brasil” líquida contém os preços de BA, GO, MG, SP, PR, SC e RS ponderados pelos seus respectivos volumes de negociação, sem considerar frete ou impostos.